terça-feira, 19 de maio de 2015

Dostoiévski em 1866 já dizia

(...) “ – Não posso precisar; mas, a mim, em tudo isso há outra circunstância que me interessa e que é já, por assim dizer, um problema. Já não quero falar de que a delinquência, entre as classes baixas, nos últimos cinco anos sofreu um grande incremente; também não falo dos contínuos roubos e incêndios; o mais estranho de tudo, para mim, é que também nas classes elevadas da sociedade aumentou igualmente a criminalidade e, por assim dizer, paralelamente. Aqui é um antigo estudante que assalta uma carruagem de correio em plena estrada; ali, indivíduos de ideias avançadas e que ocupam uma boa posição social...põem-se a fabricar moeda falsa; além, em Moscou, prendem um bando inteiro de falsários que operavam na loteria do último sorteio...e vê-se que um dos principais comprometidos é um catedrático de história universal; noutro lado assassinam um dos nossos secretários no estrangeiro para o roubarem e também por alguma outra obscura razão...E se agora se chega à conclusão de que essa velha prestamista foi assassinada por algum indivíduos das classes elevadas, uma vez que os camponeses não têm objetos de ouro para empenhar, como explicar este desenfreamento duma boa parte da nossa sociedade civilizada?
(...)  

– Sabe o que respondeu em Moscou esse catedrático, a que se referiu, à pergunta sobre o motivo por que falsificara notas? ‘Toda a gente enriquece de várias maneiras, e, por isso, eu também quis enriquecer’. Não me recordo das palavras exatas, mas a ideia era essa: enriquecer fácil e rapidamente, e com pouco custo! Estão acostumados a viver com toda a moderação, apelam para os auxílios alheios, comem coisas já mastigadas. Bem, depois, quando lhes chega a hora, cada qual mostra aquilo que é...” (p.176)

DOSTOIÉVSKI, Fiódor Mikháilovitch. Crime e castigo. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
.
.

Toda coincidência é mágica, viu? [coração]

Nenhum comentário: