domingo, 1 de março de 2015

A fada, o ogro e a sereia

Demorei a pegar o ritmo do “As cidades invisíveis”, mas depois de entrar na sua sintonia, que grandeza! Confesso que, em dados textos, eu sabia ter um tesouro escondido, mas não conseguia encontrar...é preciso viver mais!

“– O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.” (p. 150) 

CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990
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Éramos três: a fada, o ogro e a sereia; e por alguns minutos, habitávamos a mesma clareira. O ogro encostado a uma árvore, a fada pousada em uma folha e a sereia com seu torso exposto e sua cauda imersa no rio que passava. O clima era tenso. Um silêncio pesado. Tanto o ogro quanto a sereia se desconheciam e não aparentavam boa vontade para iniciar uma amizade. A pequena fada, travessa, segurava o riso: o ogro fazia caretas inconscientemente. Por que era tão difícil as espécies conviverem harmoniosamente?  

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