sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Não há mais desculpas: sejamos felizes

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“Olhava as pessoas lá fora; pareciam felizes, reunindo-se no meio da rua, gritando, rindo discutindo por nada. Mas não conseguia saborear, não conseguia sentir. Na confeitaria, entre as mesas e os garçons falantes vinha-lhe o medo terrível – não conseguia sentir. Conseguia raciocinar; conseguia ler, Dante por exemplo, com toda a facilidade (‘Septimus, deixe o livro’, dizia Rezia, fechando delicadamente o Inferno), conseguia somar a conta; o cérebro estava perfeito; então devia ser culpa do mundo – que não conseguisse sentir.

(...)
Ao chá Rezia lhe contou que a filha de Mrs. Filmer estava esperando um bebê. Ela não podia envelhecer sem ter filhos! Estava muito solitária, estava muito infeliz! Chorou pela primeira vez desde que se casaram. À distância ele ouviu seus soluços; ouviu precisamente, percebeu distintamente; comparou ao som de um pistão. Mas não sentou nada.         
Sua esposa estava chorando, e ele não sentia nada; apenas a cada vez que ela soluçava dessa profunda, dessa silenciosa, dessa desesperada maneira, ele descia mais um degrau do poço.
Por fim, num gesto melodramático que adotou mecanicamente e com plena consciência de sua insinceridade, deixou cair a cabeça sobre as mãos. Agora tinha se rendido; agora outros deviam ajuda-lo. Ele cedeu.” (p. 103, 105 e 106)

WOOLF, Virginia. Mrs. Dalloway. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012.  
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Síndrome de Irlen

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